Há um pouco tempo saiu num jornal veiculado na impressa paraense uma notícia sobre um veto da empresa de aviação TAM a um vídeo sobre o Círio. Bom... o vídeo seria transmitido durante os vôos por um espaço chamado "TAM nas nuvens", passando nas decolagens dos voos domésticos. A declaração da editora que é responsável pelos canais de comunicações de bordo da empresa aérea - uma demonstração o quanto o outsourcing tenta ausentar a culpa da empresa contratante - é que o vídeo possuía forte apelo religioso e por isso foi vetado - um eufemismo de censurado que foi criada depois que censura significou palavrão na ditadura militar brasileira - então se recomendou alterar o vídeo, sem imagens de berlinda, corda, Basílica e etc.
O Hangar Centro de Convenções foi junto ao produtor do vídeo os responsáveis pela idéia de negociar um merchandising turístico para o Pará. A própria presidente do Hangar ficou indignada.
Enfim, foi um erro ou um acerto a censura ao vídeo? Não devo ser parcial em minhas opiniões e sim analisar de forma fria e objetiva a situação- deixando para esses hífens a minha verdadeira opinião entremeada aos discursos mais imparciais. Pois se assim fizesse concordaria enormemente com a decisão de veto ao vídeo para exibição pública, mas não farei.
Nós temos que aceitar, queiramos ou não, sendo praticantes ou não, sendo católicos ou não, sendo contrários ou não, que o círio é uma grande manifestação paraense. Culturalmente enraizada e cheia de religiosidade - ou seja, prática sem consciência imediata, ou então praticada pela maioria como costume e não por fé, como o natal e páscoa que comumente estão relacionados com festas, bebidas, altas baladas e outras porcarias do tipo - ela tem uma importância econômica e cultural gigantescas. Considerada tão ou mais agregadora que o natal por estas bandas daqui.
Assim - apesar de toda a idolatria - a fé está representada de forma inegável pelas suas imagens da multidão, da corda, das ruas tomadas no centro e vazias na periferia, pela berlinda adornada de flores e coisas do tipo. Vemos aí o que o povo paraense significa ou representa ao Brasil, ou seja, a marca de personalidade da região para com os outros estados brasileiros.
A TAM pode e deve alegar que as imagens podem não ser tão bonitas e emocionantes - principalmente porque não são - para todos seus passageiros. Assim se mostra totalmente imparcial e laica. Ao mesmo tempo preconceituosa e culturalmente leiga. Preconceituosa, pois assim como o assessor de marketing do Hangar alegou, se a festa fosse original de outras regiões - fora o Nordeste e Centro-Oeste, menos DF, claro!- não teria sofrido censura. Mas será mesmo? De qualquer forma, o princípio empresarial de imparcialidade - ou seja, "vamos agradar a todos nossos clientes"- deve ser respeitado, pois acredito que a massa de não-católicos no Brasil não deve ser ignorada. A estimativa estatística do próximo censo do IBGE em 2010 é de para uma população total de 192.000.000, os de evangélicos seja 36.480.000, ou seja 19,0% do total. E isso é apenas a massa evangélica, sem contar os de outras denominações e os estrangeiros - totalmente fora do censo - que utilizam os meios aéreos da TAM. Os 19 % significariam de cada 228 passageiros - média de passageiros por comportação de aeronave- aproximadamente 43 passageiros seriam não católicos - o que já dá mais do a quantidade de meus colegas em sala numa prova do módulo Células e moléculas!
Temos que relevar o processo todo, pois a forma em que tratamos os clientes é bem diferente do que acontece em São Paulo. Nossas emissoras de tevê local ignoram completamente a massa da população paraense que não tem costumes católicos veiculando propagandas cheias de motivos do círio - às vezes sendo os produtores desses comercias nem tendo religião, mas promovendo-os apenas para abocanhar uma parcela realmente grande da população- e que acaba até por afastar essa crescente população não-católica. Mesmo assim, a grande massa é católica e a festa do círio consegue ser mais turística do que qualquer outra coisa - principalmente religiosa.
A realidade não pode ser tapada com a peneira. Vemos realmente no dia do círio a multidão mostrando na cara, no suor e nas lágrimas - sangue até- toda fé naquilo que elas acreditam com todo coração. Porém vemos também um dia antes disso uma parte dessas mesmas pessoas esperando o dia seguinte em festas, como a Festa da chiquita, famosa pela sua... erh... Diversidade de público. Mas também tem muitas outras como "véspera do círio na Casa de Reboco" ou no "Forró no Sítio" onde o motivo religioso se perde totalmente. Sem contar as "milagrosas" - merecendo umas aspas enormes-" Ressacas" em duas versões: Círio e Recírio; onde o povo que ali se manifesta dia seguinte, como por um milagre, está novinho em folha depois de ter passado pelo sufoco da corda para um forrozinho, uma caipirosca ou uma boa pegação.
Afinal, o círio que tinha uma motivação religiosa, perdeu-se. A cultura do paraense, aquele que se moderniza, está mais para uma coisa completamente do Mundo e nada mais que isso.
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