quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Povo - Grei

A poesia a seguir mostra o eu-lírico lutando contra o que o povo acha certo. A opressão sentimental por amar da forma que ele ama causada pela coerção social é motivo de suas reflexões em toda poesia. Se ele estiver certo, saberá. Se não, também aprenderá. "Na terra de cegos quem tem olho é Rei". Logo, ele acha que todos estão errados e nessa esperança ignora o sofrimento.

GREI

Como pode ser viver nessa assombração?
Como pode ser viver sem qualquer noção?
Como pode ser vagar pelas emoções?
Como pode ser viver sem você aqui?
Como pode ser viajar de trem pelo mundo?
Como pode ser andar que nem um vagabundo
A te procurar, até numa floresta chegar,
E saber que ninguém vai poder lhe ocupar em mim?
Eu sei que será mais difícil a partir daqui.
Agora você já está fazendo parte de mim
E eu nem notei que a valsa já começou.
Serão noites e noites sofrendo de amor.
E quem disse que é preciso viver chorando?
E quem chora diz que não faz isso amando.
E quem disse que um dia eu viverei assim?
E quem vive não poderá sofrer por mim.
Só serão estradas que ainda não andei
O medo faz parte da arte que eu criei.
Em terra de cegos quem tem olho é rei!
Como pode ser não entender e só sonhar?
Como pode ser viver cercado pelo mar?
Como pode ser amar num relâmpago
Ou surto de paixão da cor de um trovão?
Cegos de amor é pouca coisa pra chamar
O modo de nós dois ver o futuro de amar.
Quem é rei não se faz presente aqui,
Quem enxergará um chão bom onde pisar?
E quem disse que é preciso viver calcando?
Quem calca se esquece de morrer amando.
E quem disse que um dia eu morrerei assim?
E quem morre não volta pra dizer que é bom, sim.
Quando dois cegos resolvem se entregar, é lei.
Vale à pena se arremessar às sombras, arrisquei.
Numa terra de cegos quem ama abandona a grei.

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